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MAE-UFPR recebe Exposição “Ygá-Mirî – A Canoa de Ciudad Real del Guairá” em Paranaguá 

Foto: Bruna Portela/Acervo MAE-UFPR

A exposição “Ygá-Mirî – A Canoa de Ciudad Real del Guairá” está aberta ao público desde 14 de maio no Museu de Arqueologia e Etnologia da UFPR (MAE-UFPR), no Espaço Expositivo em Paranaguá, localizado na Rua XV de Novembro, 575 – Centro Histórico. As visitas podem ser realizadas de terça a domingo, das 8h às 20h, incluindo feriados. 

A exposição é resultado do Projeto YGÁ-MIRÎ, conduzido pelo IPHAN-PR (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e pela CPC-PR (Comissão de Patrimônio Cultural do Paraná) em colaboração com comunidades Avá Guarani do noroeste paranaense. Ela é fruto também da parceria institucional junto ao MAE-UFPR (Museu de Arqueologia e Etnologia da UFPR) e ao UFPR-CEPA (Universidade Federal do Paraná – Centro de Estudos e Pesquisas Arqueológicas). 

O Projeto YGÁ-MIRÎ do IPHAN 

Anciões Avá-Guarani contemplam a canoa após a escavação. Foto: Acervo IPHAN.  

Em 2018, este projeto de arqueologia compartilhada, liderado pelo IPHAN em conjunto com a Coordenação do Patrimônio Cultural do Estado do Paraná, resgatou uma coleção composta por dois remanescentes de canoa e outros artefatos nas proximidades da aldeia Nhemboeté e do sítio arqueológico de Cidade Real do Guairá.  

Diversos vestígios arqueológicos encontrados na área remetem a ocupações anteriores à vila espanhola de Ciudad Real Del Guairá e ao período de contato dos povos Guarani com os europeus. Entre os vestígios encontrados, estão materiais líticos, lajes com sulcos de abrasão e artefatos cerâmicos como vasilhames e urnas funerárias, que integram a coleção do CEPA/UFPR. 

Atualmente, o IPHAN possui cadastrados seis sítios arqueológicos no município de Terra Roxa e mais de 45 no município de Guaíra, representando apenas os sítios identificados e cadastrados, havendo potencial para a descoberta de novos sítios na região. A riqueza e extensão desse patrimônio reforça a ancestralidade da presença dos povos Guarani nesse território, os quais vêm desde os anos 1980 realizando um processo de retomada da região e exigindo a demarcação da Terra Indígena Guasu Guavirá, região entre os municípios de Guaíra e Terra Roxa e que contém atualmente cerca de 14 aldeamentos.  

Participação das Comunidades Ava-Guarani 

A exposição reflete as diversas vozes que participaram do processo colaborativo, trazendo informações históricas sobre a ocupação do oeste paranaense e o envolvimento das comunidades indígenas na pesquisa arqueológica através de sua perspectiva própria. A arqueologia, nesse contexto, contribui para a resistência dos Ava-Guarani e influi sobre o futuro das comunidades, integrando a construção da memória e a transmissão de saberes. 

Desde o primeiro momento a atuação dos rezadores para a relação com os donos espirituais das canoas foi algo fundamental na participação Avá Guarani no processo de escavação arqueológica. Em uma perspectiva decolonial de ações compartilhadas em museologia, esta abordagem reflete os princípios da Museologia Social, que recentra o processo museológico no ser humano como produtor de conhecimento e o espaço museológico como local de encontro.  

Quando houve o batismo de uma das canoas, justamente a que recebeu o nome de “Ygá-Miri” (Canoa Pequena) que dá nome ao projeto, foi firmado um compromisso com as comunidades envolvidas de que quando as condições adequadas forem concretizadas através da regularização fundiária e da construção de uma casa de memória Avá-Guarani, as canoas e os outros bens associados devem retornar para a terra indígena. 

Assim, a participação das comunidades Ava-Guarani tem sido fundamental para a preservação da canoa Ygá-Mirî e dos demais vestígios arqueológicos. Eles acompanharam o processo de resgate, documentado por fotografias e um vídeo-documentário exibido nas tekohas (aldeias) em 2021. Em continuidade ao trabalho colaborativo, o IPHAN, em parceria com a UFPR e a Unioeste, promoveu encontros on-line de educação patrimonial com estudantes indígenas, bem como elas estiveram também presentes na recente movimentação das canoas para a Reserva Técnica do MAE-UFPR e atuações previstas com a exposição em seu espaço em Paranaguá. 

 
Atuação do MAE-UFPR no projeto 

Mulheres Avá-Guarani percutem o Takuapu na Reserva Técnica do Museu de Arqueologia e Etnologia da UFPR em Curitiba (Acervo MAE-UFPR) 

Além da exposição, como parte integrante das ações do projeto, está a pesquisa, manutenção e conservação das canoas da comunidade Avá-Guarani sob responsabilidade do MAE-UFPR, que está em processo de ampliação e modernização de sua Reserva Técnica com recursos do IPHAN através do projeto YGÁ-MIRÎ.  As canoas estavam sendo conservadas no Museu Paranaense e, em outubro de 2023, foram transferidas para a Reserva Técnica do MAE-UFPR em Curitiba. 

Esse transporte se deu com rezas e rituais de canto, dança e maracá, realizadas para ‘desinstalar’ as canoas e informar seus donos espirituais sobre a mudança para a Reserva Técnica do Museu de Arqueologia e Etnologia da UFPR, através da mediação realizada pelos rezadores. Representantes das instituições envolvidas participaram e a cerimônia atingiu seu ápice quando todos foram convidados a se juntar na dança ritual, chamada de “jeroky” pelos Avá-Guarani.  Ao final algumas das lideranças concederam entrevistas para equipe de jornalismo da TV UFPR que, tendo acompanhado o evento, produziu a seguinte reportagem:  

Reportagem especial da TV UFPR sobre a vinda das canoas, com as entrevistas.

Após a dança e o canto, os rezadores e lideranças explicaram a importância da coleção e os cuidados necessários com os objetos. Ficou decidido que um rezador Avá-Guarani visitará periodicamente a Reserva Técnica do MAE para conduzir o canto cerimonial. Esses rituais têm como objetivo apaziguar e satisfazer os ancestrais donos das canoas, atraindo bênçãos para os Avá-Guarani e para as equipes envolvidas no projeto: hoje essa canoa para nós é um documento, um documento mostrando para a sociedade que nós, o povo Guarani daqui do Paraná, daqui do Brasil, somos povos indígenas sim. Mantemos a nossa língua, mantemos nossa cultura e mantemos a nossa reza para onde for que a gente sempre vai estar com nosso canto.” disse a Cacique Nazany Martins, liderança da aldeia Nhemboeté, durante o evento. Saiba mais sobre o projeto e o recebimento das canoas pelo UFPR aqui.

Serviço:
“Exposição Ygá-Mirî – A Canoa de Ciudad Real del Guairá”
Desde 14 de maio no MAE-UFPR Paranaguá.
Aberto para visitação de terça a domingo, das 8h às 20h (inclusive feriados).
Rua XV De Novembro, 575 – Centro Histórico.  
Mais informações: (41) 3721-1200 (Whatsapp) | mae@ufpr.br .