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MAE, PET Litoral Indígena, NUEI e MusA somam esforços no Abril Indígena UFPR 2020

A Universidade Federal do Paraná, através da união dos esforços de seu Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE-UFPR), do Museu de Arte da UFPR (MusA), do PET Litoral Indígena e do Núcleo de Estudantes Indígenas , com o apoio da Superintendência de Inclusão, Políticas Afirmativas e Diversidade (SIPAD-UFPR), promove atividades virtuais neste mês de abril com o propósito de dar visibilidade à atuação dos povos indígena nos âmbitos públicos, acadêmicosmuseais e culturais, reafirmando a presença indígena na UFPRÉ o Abril Indígena UFPR 2020. 

Neste mês, em que o movimento indígena busca fortalecer e dar visibilidade social para suas reivindicações, as redes sociais da UFPR estarão abertas às vozes indígenas. Nesses ambientes virtuais, estarão circulando convidados artistas, acadêmicos e lideranças indígenas para falar sobre Arte, Cultura e Saúde em tempos de pandemia. Essa foi a solução encontrada, nesse momento de pandemia, em que o combate coletivo ao Covid-19 obriga todos ficar em casa, para reiterar o apoio da UFPR às agendas dos povos indígenas, e reverberar suas culturas, artes e pensamentos, suas reflexões, obras de arte e expressões culturais que vêm sendo produzidas por intelectuais e autores indígenas contemporâneos 

A ação foi oficialmente inaugurada com a voz e as imagens divulgadas nas Redes Sociais do Museu de Arqueologia e Etnologia da UFPR (MAE-UFPR) oferecidas pela iniciativa de Jaider Esbell , artista e curador macuxi, que fala justamente da necessidade dos museus e das universidades abrirem suas portas para que as populações indígenas possam se reencontrar com os feitos de seus antepassados e, a partir daí, propor novos caminhos.  

O convite está aberto a todos e todas que queiram colaborar, e também trazer suas ideias, expandindo o horizonte institucional e social desta açãoOutras instâncias da UFPR e demais setores da comunidade externa serão bem vindospodendo entrar em contato com o Museu de Arqueologia e Etnologia da UFPR, através do e-mail mae@ufpr.brque estará centralizando a recepção das atividades propostasorganizadas coletivamente pelos parceiros. 

Confira o vídeo do Jaider no seu Facebook aqui ou confira abaixo:

 

 

Por amor, ouvir e projetar no seu museu.
Uma colaboração a convite do artista Makuxi Jaider Esbell
Abril indígena 2020 – Especial Museus – Quarentena de isolamento social.
Vídeo e texto autoral

Eu recebi um convite do MAE – Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade Federal do Paraná para gravar um vídeo a ser projetado na internet durante a quarentena de isolamento social nesse mês, o abril indígena de 2020.

Parece que tudo já sentiu, não exatamente o aspecto, mas o efeito das grandes mudanças. Não mais as que virão, mas as que já estão nos cobrando atitudes, muito mais que reflexões.

Eu mando esse vídeo para ser projetado por museus, dessa forma. É um vídeo para os museus, mas o museu é cada um de nós. Me parece que efetivamente, a gente já não tem mais aquela ideia do tempo para adstringir, ou administrar as questões seculares que envolvem as abordagens complicadas.
São operações de sequestros que muitos chamam de coloniais, que nos trouxeram exatamente para cá, para o tempo presente. Onde a figura do museu embora seja vista e sentida como um lugar de tristeza e depressão, um lugar frio e muito pouco salubre eu vejo como um lugar com energias muito fortes onde nós hoje podemos e devemos ir para nos energizarmos. Para sentirmos a energia dos nossos antepassados e respirar. Respirar. Essa é a palavra do momento.

Respirar essa energia, para nos alimentarmos dessa energia. A energia que há nos museus dessa categoria. Então, talvez, talvez, alguns compreendam os ambientes museológicos, os quartos escuros, os porões, aqueles quartos entupidos de coisas amontoadas, alguns consigam entender esses ambientes como uma reserva de energia estratégica. E que efetivamente, os atos, atores dos transmundos, possam trabalhar, com a maior das elegâncias.
O que eu quero dizer?
Quero dizer que; quem tem as chaves dos museus, deve simplesmente abrir as portas das salas e arredar. Devem se afastar e deixar os povos trabalharem. Quem tem as chaves desses lugares, não pode, não deveria achar, que toda e qualquer pessoa remanescente dos povos originários, que querem ir lá, querem ir para danificar, para vandalizar ou para roubar.
É necessário que as pessoas que tem as chaves desses lugares, compreendam que nós precisamos visitar esses lugares para beber energia ancestral. Mais do que nunca é preciso que rezadeiras, benzedeiras, pajés, xamãs, mestres, magos, bruxos e demais pessoas ligadas ao trabalho espiritual acessem esses ambientes, urgente.
A energia está lá também para alimentar o nosso corpo cosmológico, cosmogônico e a partir deste alimento, acredito que possamos estabelecer, mais que reestabelecer as conexões dos nossos corpos com o corpo maior das grandes teias universais que há muito tempo foram rompidas.
Isso é pensar uma das funções dos museus para um dos campos da saúde global. A saúde cósmica universal. O que temos a dizer para museus? Museus são lugares administrados por pessoas como nós. São instituições burocratas em crise e as crises são das pessoas.

As crises são humanas. Eles, os museus sobrevivem sem as pessoas, pessoas sem a energia que “guardam” esses museus, não sobrevivem. Lá dentro estão os espíritos. Eles estão lá, mas não estão mortos, são energias, são matérias imateriais. São, de um certo modo, conexões para nós, os remanescentes conscientes e vivos de nossas raízes ancestrais, no tempo que não se pode medir.
Falo vivo biologicamente vivo e com alma, pois tem muita biologia já sem alma. Assim, eu acredito, esses espíritos, embora livres e vivos, esperam em nós uma neo-conexão para voltarem a fluir, a operar nos cosmos maiores da vida.
As pessoas que administram os museus estão mortas ou sofrendo de uma espécie de adestramento alienante que não os permite de modo algum, enxergar essas questões, tampou lhes é permitida a iniciativa de tomar alguma decisão ou atitude mínima.
É completamente frustrante esse sistema burocrático, monetário e de um valor maior equivoco de achar que ainda estão no controle da situação. Por isso eu digo que a função mais nobre deles, os operadores do sistema é: abrir a porta e ficar paradinho do lado, só observando, sem intervir em nosso trabalho.
– Ei, fique aí um pouquinho, espera só um momento e deixar a gente trabalhar no que é nosso, esse imaterial, é nosso, não nos atrapalhem mais.
– Muito obrigado, muita gratidão por “cuidar” até aqui, mas agora pode deixar com a gente.
Eu entendo que tem muita energia distorcida nessa questão. Tem muito ranço, muito ódio, rancor, tristeza e um desejo latente de vingança. Mas o que eu poderia dizer sobre isso sendo eu um artista? Talvez não adianta mesmo destruir o museu.
Destruir o museu é uma expressão verbal que deve ser ilustrada com ações.
Vejamos.
Eu estive em alguns grandes museus da Europa e Estados Unidos e lá eu propus. Em um especialmente eu fui mais direto. Foi com o MEG – Museu e etnografia de Genebra, na Suíça. Lá eu propus receber aqui no Brasil, na minha galeria de arte, uma pequena coleção do material do meu povo Makuxi. O Diretor até se animou pois o assunto era repatriação, decolonizar os museus.
Ele me disse: É a ideia é maravilhosa, eu gostaria muito, mas eu não sou dono do museu, não sou eu quem manda no museu.
Quer dizer; é um discurso falido e ensaiado para não ir além disso.
O sentido de “destruir” o museu do passado é mesmo devolver os itens se os remanescentes destes povos quiserem e temos que aceitar, respeitar e comemorar seus encaminhamentos.
Se uma indumentária tiver que ser recebida por aqui para ser queimada, para ser deixada na caverna ou jogada no fundo do rio, isso deve ser compreendido como a continuidade do rito. Com isso todos devemos nos alegar e voltar a acreditar que talvez esse seja uma ampliação do sentido novo para o velho modelo de museu.
Digamos para nós mesmos: é, museu agora não é mais exclusividade de ninguém, as peças agora estão em seus devidos lugares e meus sentidos podem conceber que; mesmo cada coisa em seu lugar, seja que tenha sido queimado ou enterrado, o museu continua vivo e fazendo a sua função de nos alertar sobre quão pequenos nós somos diante das maravilhas dos feitos coletivos.
Sobretudo poderemos rever nossas práticas e perceber a magnificência da humanidade quando guiada pelos astros maiores que regem a vida muito, muito antes de nossa tecnologia ultramoderna de ontem.
Museus devem se desfazer e crescer, coleções devem voltar, devem visitar florestas, comunidades remotas. Museus dessa categoria devem ver gente, devem estar livres para caminhar no mundo com suas vidas próprias. É o que eu tenho para falar sobre esse assunto tão instigante. Seja você a memória e serás um museu para sempre, se você compartilhar-se.

Publicado por Jaider Esbell em Terça-feira, 31 de março de 2020